A Igreja de Moreira da Maia: um Reflexo do Caráter Português durante a União das Coroas Ibéricas, por André Silva

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A fachada principal da Igreja de Moreira da Maia

Foto: Nuno Silva, 2013

 

A batalha de Alcácer-Quibir, além de ter deixado Portugal sem um herdeiro mais legítimo que Filipe II de Espanha – filho do imperador Carlos V e de Isabel de Portugal, filha do nosso rei D. Manuel I –, arruinou com a economia nacional que, de repente, se via com escassos recursos e numa situação de endividamento que impossibilitava a existência da necessária força para manter a independência da coroa portuguesa face à então maior potência europeia: a Espanha.

Esta repentina conjuntura feriu o orgulho nacional que, perante estas dificuldades, adotou uma postura austera e sóbria, refletida também na arquitetura produzida durante o domínio da dinastia filipina. Como é exemplo disso a Igreja de Moreira, no concelho da Maia, construída entre os anos de 1588 e 1622. Esta igreja é facilmente acessível e visível a partir da Estrada Nacional 13 e, para quem se dirige no sentido sul-norte, localiza-se na ala esquerda da estrada, imediatamente a seguir ao cruzamento com a A41.

Apesar da grande sobriedade a igreja revela um forte eruditismo maneirista na fachada principal: o rés-do-chão contempla um nártex com grossas pilastras de ordem toscana que suportam um entablamento corretamente tripartido que, por sua vez, suporta o piso superior, muito mais alto e com pilastras de ordem jónica, cujo ritmo da sua disposição é prolongado no entablamento. Entre as pilastras existem três janelas, as das alas são cegas e a do centro, mais alta e rematada em arco, dá aqui à igreja um forte impulso vertical.

Toda esta austeridade e sobriedade atribuem ao templo um caráter de recolhimento e resguardo – quase como que se ali dentro estivéssemos, nós, os portugueses, protegidos do “invasor espanhol”. De notar que esta igreja pertencia à Ordem dos Agostinhos que anos antes da batalha de Alcácer-Quibir mandara erguer a Igreja de São Salvador de Grijó que, apesar de similar a esta, possui bastantes elementos decorativos e um acentuado dinamismo entre os seus componentes arquitetónicos.

 

Bibliografia: KUBLER, George, “A Arquitectura Portuguesa Chã: entre as Especiarias e os Diamantes (1521-1706)”, Vega, 2005 (2.ª ed.); RUÃO, Carlos, “Arquitectura Maneirista do Noroeste de Portugal: Italianismo e Flamenguismo”, Coimbra, 1996.

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