A poética do espaço (Exposição individual de Joana Rêgo, patente na Marcolino Art Gallery), por José Rosinhas

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A POÉTICA DO ESPAÇO

Exposição individual de Joana Rêgo, patente na Marcolino Art Gallery, de 28 de Setembro a 12 de Novembro de 2013.

 

A empresa Marcolino Relojoeiro, fundada há 85 anos e com uma presença única na cidade do Porto, inaugurou este ano um projecto artístico intitulado de “Marcolino Art Gallery”. Galeria e loja, encontram-se sediados num belíssimo edifício projectado pelo arquitecto de Francisco de Oliveira, sito na Rua de Santa Catarina.

O espaço expositivo com a coordenação da artista plástica Catarina Machado tem como projecto curatorial convidar artistas do Porto e com um vasto contributo para arte contemporânea portuguesa.

Assim no dia 28 de Setembro inaugurou a exposição individual de Joana Rêgo. O projecto apresenta-se como “A Poética do Espaço”, tendo como referência a obra homónima de Gaston Bachelard, publicada em 1958. De referir que, Gaston Bachelard (1884 – 1962) foi um dos mais importantes pensadores de França. Uma das figuras da fenomenologia (do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que se mostra – e logos – explicação, estudo), isto é, do estudo do fenómeno da imagem poética.

Como complemento à exposição temos um belíssimo texto de António Gonçalves que ajuda a esclarecer o nosso pensamento crítico sobre a exposição, ou melhor dizendo sobre o espaço “casa”:

“Assumir o uso da casa como objecto de trabalho plástico, leva a enaltecer uma poética do propósito da habitabilidade, consumindo as responsabilidades que lhe sucedem por inerência”.

Ao longo da sua carreira Joana Rêgo, tem vindo a dedicar particular interesse ao estudo da relação entre a palavra e a imagem, onde o Livro é o catalisador das suas obras. De referir alguns autores que colaboraram no ponto de partida para as suas obras pictóricas: Afonso Cruz, Ana Hatherly, Gonçalo M. Tavares, Manuel António Pina, Manuel Jorge Marmelo, Valter Hugo Mãe, Vasco Graça Moura, entre outros,

Já sobre a artista o Prof. Pintor António Quadros Ferreira escreveu “A palavra é, então, palavra e pretexto para uma pintura de inscrição e de liberdade.”

A actual mostra apresenta seis telas e 30 casas de pássaros possivelmente para um jardim. Chamamos a atenção para uma casa de pássaros que se salienta das outras obras pelo destaque que lhe foi dado, pela sua brancura e pela divisão do espaço em dois. O espectador é convidado a espreitar para o seu interior onde descobre uma bela pintura de relva.

Ao observar estas obras não se pode deixar de referir a obra de Mike Kelley (1954-2012), intitulada “Catholic Birdhouse”, 1978, considerado por muitos como um artista pós-art pop. O seu trabalho agrupava cultura popular americana com referências culturais e objectos quotidianos. Na casa de pássaros de Mike Kelly, com duas entradas, podemos ler duas frases que se referem a cada entrada “The hard road” e “The easy road”.

Nesta mostra de trinta casas de pássaros, possíveis espaços de abrigo e de habitar também encontramos na sua fachada palavras escritas em inglês como: poesia, memória, sonho, cosmos, imaginação, entre outras. Mas são os telhados das casas que se transformam em suporte de pequenas pinturas em que nos são representados, relógios, troncos de árvores e relva.

É “nesta” relva, alusão ao espaço exterior, à paisagem e à liberdade, que encontramos uma das suas telas que serve de base para uma das casas em que ambos estão protegidos por uma caixa de papelão e colocados num tabuleiro de xadrez, ou talvez num pavimento preto e branco. Pode-se ainda ler nessa obra “we love our day of intimacy”.

 

Diversas obras que nos suscitam curiosidade tornando-nos voyeurs dessa poética do espaço. Uma exposição a não perder!

José Rosinhas

Outubro 2013

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