Forte da Luz: o Cerco do Porto e a sua Comunicação com o Mundo (artigo de André Silva)

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Lugar do Forte da Luz.

Foto: Patrícia Marcos, 2014

Decorria o ano de 1833 quando no dia 8 de Janeiro o exército miguelista atacou as posições liberais na Foz do Douro com o objetivo de impedir o desembarque de mantimentos para o Porto que, à exceção deste lado, se encontrava completamente cercado por um exército de proporções extraordinariamente superiores às do que defendia a cidade.

            Nesta ocasião o Porto encontrava-se a fazer um dos maiores sacrifícios da sua história: com as comunicações terrestres cortadas e com a barra do Douro bloqueada pelas baterias miguelistas da margem sul, a cidade sufocaria não fosse a mínima linha de costa – entre o Forte de São João da Foz e o Farol da Senhora da Luz – que os liberais ainda controlavam.

            Esta linha de costa era defendida pelo já desaparecido Forte da Luz, que se constituía por um campo entrincheirado que circundava a parte mais elevada do monte da Senhora da Luz, que ainda hoje contempla um farol com esse nome e era já existente na ocasião do cerco. Com boa vontade podemos considerar que existem ainda ténues vestígios dessa estrutura militar, nomeadamente o terreno do pequeno jardim entre o recinto do farol e a estrada que lhe é contígua – correspondente à esplanada para tiro rasante.

            Este forte, apesar de praticamente esquecido, foi, como vemos, decisivo na comunicação do Porto com o mundo. Tendo protegido a entrada de sucessivos mantimentos nos meses mais difíceis do cerco e facilitado alguns ataques liberais contra as posições miguelistas no Monte do Crasto e no Castelo do Queijo.

            Hoje, para memória dos acontecimentos que o Forte da Luz protagonizou temos ainda o edifício do farol e o recinto onde o mesmo se insere que nos oferece um miradouro com uma ampla vista sobre o oceano e a Foz do Douro – uma vista que, apesar de acesso condicionado, é uma das mais belas vistas que podemos desfrutar sobre a Foz e o mar.

Bibliografia: BARROCA, Mário Jorge, “As Fortificações do Litoral Portuense”, Lisboa, Inapa, 2001; “O Cerco do Porto: Exposição Comemorativa do 150.º Aniversário”, Porto, Casa do Infante, 1982; OWEN, Hugh, “O Cerco do Porto”, Lisboa, A Regra do Jogo, 1985.

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