Artigo “Ainda Philip Seymour Hoffman”, por César Nóbrega

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A manhã do domingo, dia 2 de Fevereiro de 2014, vai ser lembrado pela triste notícia da morte do actor Philip Seymour Hoffman. São muitas as razões para lamentarmos o desaparecimento de um dos maiores actores da sua geração. Nascido a 23 de Julho de 1967 era um “tipo” normal. Tinha mulher, filhos e era humano, cedeu às tentações que se cruzam diariamente connosco. Seymour Hoffman começou a trabalhar sensivelmente na mesma altura que eu. O seu trabalho em televisão iniciou-se em 1991 (na série “Lei e Ordem”) e em 1992 entrou num dos filmes da minha vida – “Perfume de Mulher” de Martin Brest, com Al Pacino no papel de um tenente coronel cego que lhe valeu Óscar de Melhor Actor.

 

http://www.youtube.com/watch?v=RUE4v1rUpSM

 

Aqui a sua passagem é breve… mas foram muitas as passagens breves e marcantes, as de Philip Seymour Hoffman. Uma das suas características era precisamente essa – a de actor secundário. Seymour Hoffman chegou a confessar em entrevistas que percebia o porquê de sempre lhe darem papeis secundários. Ele era baixo, anafado e nada sexy. Ele era o papel secundário! Para a minha geração e para a dele, ele era o modelo, a esperança de que um dia o homem comum pode chegar às estrelas e viver uma vida recheada de glamour. Aparentemente, não lhe chegou O vício da droga derrubou-o. Já li teorias de que o cérebro de um dependente é diferente do nosso. Está fadado para aquilo. Mas, não! Houve sempre uma primeira vez… e essa primeira vez foi de livre vontade. Contudo, o ser humano é assim. Pode-se ser a melhor das pessoas e sucumbir perante a mais frágil das situações.

Voltando ao cinema, Philip Seymour Hoffman esteve em alguns dos mais importantes filmes do final do século passado – “Boogie Nights” e “Magnólia” de Paul Thomas Anderson, “Felicidade” de Todd Solondz, “O Grande Lebowski” dos irmãos Coen, “O Talentoso Mister Ripley” de Anthony Minghella, e já a entrar no novo século, “Quase Famosos” de Cameron Crowe, “A Última Hora” de Spike Lee, “Antes que o Diabo Saiba que Morreste” de Sidney Lumet, “Os Savage” de Tamara Jenkins”. Nesta altura já tinha ganho Óscar de Melhor Actor em “Capote” de Bennet Miller.

 

http://www.youtube.com/watch?v=PJ8GhmGbjI8

 

Em 2010 realizou o seu primeiro filme – “Jack Goes Boating”, que também protagonizou. Seymour-Hoffman fazia como ninguém de homens envergonhados que tinham medo da rejeição. Era fácil nós, os espectadores, identificarmo-nos com ele. Queríamos ajudá-lo para que a sua sorte fosse melhor. Mas, como neste “Jack Goes Boating”, o argumento era implacável para as suas personagens. Mesmo quando ele era “o mau da fita” (“Antes que a Morte Saiba que Morreste” ou “Sinecdoche, Nova Iorque”) nós não lhe escapávamos!

Recentemente, Hoffman participou na saga “The Hunger Games” (ainda vão estrear mais dois – ele é um dos líderes da resistência), “God’s Pocket” de John Slattery (o Roger Sterling de “Mad Men”) sobre a angústia de um homem que tenta encobrir a morte de um familiar seu, e “A Most Wanted Man” do também fotógrafo Anton Corbjin com base num livro de John le Carré. Um thriller sobre um imigrante checheno que imigra para Hamburgo.

 

http://www.youtube.com/watch?v=CP-qlvDLGak

 

Philip Seymour Hoffman é, e será sempre “ A Most Wanted Man”.

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