“Porto: cidade anti-motim”, por André Silva

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A Rua 31 de Janeiro vista a partir da Rua dos Clérigos.

Foto: Patrícia Marcos, 2014

 

Decorria o ano de 1891 quando, no dia 31 de Janeiro, uma multidão de revoltosos subiu a Rua de Santo António em direção à Praça da Batalha para submeter o resto da cidade a aderir à República que momentos antes havia sido proclamada nas varandas dos Paços do Concelho do Porto.

Esta situação não teria sido um «grande 31» se mesmo no cimo da rua não se encontrasse um destacamento da Guarda Municipal que disparou uma forte carga de fuzilaria contra a multidão que, abruptamente, interrompera a marcha e se vira encurralada pela fuzilaria do cimo da rua e pela massa de gente aos empurrões que vinha atrás.

Repare-se na subtileza com que os revoltosos facilmente, sem se aperceberem, se emboscaram a eles próprios, subindo ingenuamente uma rua comprida sem cruzamentos na direção da Guarda Municipal prontamente formada com as armas apontadas para eles. Para recordar o ocorrido, aquando da implantação da República, esta rua passou a designar-se «31 de Janeiro».

Esta rua foi projetada durante a reforma urbanística dos Almadas que dotou a cidade de compridas e ininterruptas vias a direito. Reforma esta que foi elaborada de acordo com orientações do Marquês de Pombal que pretendera dotar a cidade de condições urbanísticas que permitissem às forças de segurança reprimir rapidamente qualquer revolta que deflagrasse no Porto. Como uma que nesta cidade ocorrera em 1756 contra a companhia das vinhas e para cujo controlo foi necessário um contingente de 1.200 homens comandados por João de Almada e Melo.

Foi precisamente este João de Almada quem comandou a reforma urbanística a que nos referimos. O que nos ajuda a compreender porque é que as ruas do Porto desta altura são tão compridas: foram projetadas não só para beneficiar a qualidade de vida e a atividade económica da cidade como também, e principalmente, para facilitar às autoridades controlar rapidamente qualquer revolta popular que deflagrasse.

 

Bibliografia: FERRÃO, Bernardo, “Projecto e Transformação Urbana do Porto na Época dos Almadas, 1758/ 1813, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1997; CHAGAS, João, “História da Revolta do Porto”, Lisboa, Assírio e Alvim, 1978.

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