Museu holandês retém peças da Crimeia por não saber a quem as entregar

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O Museu Allard Pierson, em Amesterdão, está desde Março a tentar decidir o que fazer com as peças emprestadas por quatro museus da Crimeia antes dos acontecimentos que levaram à mudança de poder nessa península. Depois de todos estes meses de estudos e aconselhamento jurídico, o museu não chegou a uma conclusão sobre a quem devolver os tesouros da exposição Crimeia: ouro e segredos do Mar Negro. Até que haja uma decisão internacional ou um acordo entre as partes – a Rússia e a Ucrânia – o museu vai guardar as peças.

Depois de 31 de Agosto, data do fim da exposição, os artefactos em ouro dos séculos II e III a.C., disputados pelos museus da Crimeia e o Ministério da Cultura ucraniano, ficarão “guardados em lugar seguro até a situação se tornar mais clara”, anunciou o Museu Allard Pierson na quarta-feira em comunicado de imprensa. O museu diz não querer cometer erros e só quer devolver as peças depois de um acordo entre as partes ou de uma decisão tomada por um juiz ou árbitro internacional.

Os acordos de empréstimo das peças são anteriores aos acontecimentos que levaram à mudança de poder na Crimeia: a exposição tinha estado no início do ano na Alemanha e chegou ao museu holandês em Fevereiro. Nessa altura, a Ucrânia era um país uno e a Crimeia uma das suas penínsulas – um lugar fronteira, bem próximo da Rússia. Poucas semanas depois abertura da exposição, a 18 de Março, o presidente russo Vladímir Puttin anexou a península da Crimeia à Rússia e abriu um limbo para estas peças.

Em Março, o Museu Allard Pierson pediu aconselhamento ao ministro do Negócios Estrangeiros holandês e, nessa altura, a data da exposição foi alterada de Maio para Agosto. O que se procurava era saber “que leis e que convenções internacionais podem aplicar-se e qual a procedência detalhada dos tesouros”.

Em Kiev, o Ministério da Cultura ucraniano diz que os achados arqueológicos são propriedade do Estado da Ucrânia e não dos museus e acrescenta que os acordos foram fechados antes dos acontecimentos que levaram à anexação da Crimeia – anexação essa que a Ucrânia não reconhece.

Na Rússia, Vladímir Medinski, ministro da Cultura, disse já que o seu Governo não vai abdicar dos seus interesses e que os acordos foram feitos entre os museus – é a eles que os objectos têm que ser devolvidos.

Valentina Mordvintseva, arqueóloga do Instituto de Arqueologia da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia, especialista na península da Crimeia, disse em Março ao canal de notícias russo NTV que separar os objectos “seria um assassinato, para os objectos e para os museus”.

As peças em questão são objectos arqueológicos em ouro, dos séculos II e III a.C. e incluem armamento, como capacetes e espadas, e ainda jóias achadas na Crimeia, “um lugar de interacção e diversidade de culturas desde o século VII a.C. ao VII d.C.”, explicou Valentina Mordvintseva ao Arts Newspaper em Março.

Fonte: Público

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