“Igreja de São Vítor em Braga e o Início da Arquitetura Barroca em Portugal”, artigo de André Silva

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Igreja de São Vítor em Braga.
Patrícia Marcos, 2014

 

No século IV vivia em Bracara Augusta um jovem chamado Vítor que, numa manhã enquanto percorria os campos, foi convidado a participar num cortejo em honra dos deuses Ceres e Silvano. No entanto Vítor recusou, dizendo que seguia a fé de Cristo e por isso não tomaria parte em homenagens a falsos deuses. Perante isto o povo sentiu-se insultado e Vítor foi julgado: retalharam-lhe o corpo com lâminas incandescentes e, como Vítor se mantinha eloquentemente fiel a Cristo, cortaram-lhe a cabeça.

Este foi o martírio de São Vítor. Cujos episódios da sua vida se encontram narrados nos painéis de azulejos da igreja que lhe é consagrada em Braga. Esta igreja tem uma presença tão peculiar no meio urbano onde se insere que quem por ela passa dificilmente não lhe fixa o olhar. Principalmente para quem vem do centro histórico e percorre até ao fim a Avenida da República, onde a partir dali avista a referida igreja, que tem a particularidade de nos remeter para os templos da antiguidade clássica.

A Igreja de São Vítor foi construída nos finais do século XVII e, embora tenha elementos clássicos tão vincados como o pórtico de ordem jónica ou o frontão assente sobre um entablamento tipicamente grego, trata-se de uma das primeiras igrejas construídas em Portugal com elementos barrocos, como é exemplo o óculo oval com enrolados. Mas o mais importante encontra-se no interior onde as paredes foram em projeto planeadas para acolherem azulejos com pinturas azuis, uma técnica que em muito viria a caraterizar o barroco português.

Este tipo de pintura, representando neste caso cenas religiosas, era feito com o objetivo de disfarçar o caráter estático do espaço, acentuando os efeitos de profundidade e, por conseguinte, exaltar-nos as emoções. Assim esta igreja, embora esteja tão relacionada com o santo mártir bracarense, é também importante por nos remeter para a compreensão de um período de transição cultural em Portugal: a entrada no estilo barroco.

Bibliografia: PEREIRA, José (Dir.), “Dicionário de Arte Barroca em Portugal”, Lisboa, Presença, 1989; LEITE, José, “Santos de Cada Dia”, vol. I, Braga, Editorial A. O., 1987.

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