O Museu dos Coches e a cascata de fogo preso em Belém | artigo de Luís Raposo

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Ouvido na AR, o secretário de Estado da Cultura (SEC) teceu um conjunto de considerações sobre os planos para o eixo Belém-Ajuda, todas vagas, e afirmou concretamente que o novo Museu dos Coches abrirá em 22 de Maio próximo (ou 23, como corrigiu depois). Vistas com cuidado e desencriptadas por quem acompanha de perto estes temas, as ditas considerações só podem significar uma coisa: O Museu dos Coches descolou do plano supostamente pedido a António Lamas para o parque museológico e património do eixo Belém-Ajuda.

Encurralado em vésperas de eleições (nas quais a oposição socialista, autora do projeto nos tempos do desvario socratista e seus tentáculos, não deixaria de o confrontar, ou mesmo achincalhar com a inépcia de ter mantido o museu fechado durante toda uma legislatura), o Governo entendeu resolver já este problema, abandonando a proposta que Lamas vinha sugerindo. Este último bem se pode cuidar para que afinal não venha mesmo a ser uma espécie de “liquidatário” do CCB.

Admitiu o SEC que “a sustentabilidade não é evidente”, mas disse estar a trabalhar no assunto. Ora, o busílis da questão está aqui. Desde sempre tenho referido, tal como a generalidade dos museólogos, que o novo Museu dos Coches, para além de não prioritário e mesmo inconveniente a uma política museológica nacional com pés e cabeça, seria como que uma espécie de elefante em loja de cristais. É agora altura de aprofundar a metáfora e para tanto apenas me ocorrem os manuais de prestidigitador e pirotécnico dos finais do século XIX, onde nos eram ensinadas as artes da dissimulação e do fogo preso.

Fonte: Público,23.01.2015

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