A Cultura, em Ílhavo, vai mudar!

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Fonte: DN, 12.11.2016

 

Os atuais equipamentos vão dar lugar a uma Fábrica das Artes, uma Fábrica das Ideias, uma Casa da Cultura e um Cais Criativo. A ideia é que falar de cultura seja falar de Ílhavo

O aviso foi feito com várias semanas de antecedência: “Os centros culturais vêm abaixo”. Hoje é o “dia da mudança”. “23 milhas” é o novo projeto cultural de Ílhavo, que faz “desaparecer” os centros culturais do concelho para criar um modelo de gestão articulada entre quatro equipamentos, com vista a colocar Ílhavo na rota cultural nacional e internacional. Não só se alteram os nomes do Centro Cultural de Ílhavo, do Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, do Teatro da Vista Alegre e do Centro Sociocultural da Costa Nova, como muda a abordagem. Do Laboratório das Artes ao Cais Criativo, a programação irá da música clássica à eletrónica, mostrando o que de melhor se faz em Portugal e tentando trazer cada vez mais projetos internacionais.

Luís Ferreira, diretor do ainda Centro Cultural de Ílhavo, chegou de bicicleta ao trabalho – como é habitual -, na terça-feira, para nos falar do projeto que tem para o concelho. “Os centros legitimam. São espaços de poder, que não são necessariamente os mais criativos. Têm mais medos, mais responsabilidade, são mais institucionais”. Uma das razões pelas quais se diz que “os centros culturais vão abaixo”. A ideia é criar um “projeto de território”. E é por isso que a jurisdição dos espaços culturais aumentou, extravasando para as praças e jardins limítrofes. Depois de chegar a Ílhavo, onde nunca tinha estado, Luís Ferreira apercebeu-se que a concorrência era forte. “Há sete centros culturais no distrito, com dinâmica, programação. Estamos todos a fazer as mesmas coisas”. Sentiu necessidade de se diferenciar.

“O que fazer com quatro edifícios num concelho tão pequeno?”. Comecemos pelo mais antigo, o Teatro da Vista Alegre, edificado em 1826, no bairro operário da conhecida fábrica de porcelanas. Renovado este ano, o espaço passa a ser o Laboratório das Artes de Teatro da Vista Alegre. “Vai dar lugar ao pensamento, à pesquisa, ao trabalho de investigação”, explica. Pretende criar um “movimento na área do pensamento”, fazer “estudos de público”, perceber o impacto de “estratégias culturais”. Já a programação, virada para o outono e inverno, será “mais erudita, uma perspetiva mais clássica ou experimental”.

Na Gafanha da Nazaré, o Centro Cultural transforma-se numa Fábrica de Ideias. Aproveitando a “genética” da cidade – “industrial, fabril” – será um local “de residências artísticas e espaço para a criação”, uma vez que tem “condições fabulosas para albergar artistas, com palco para ensaios, salas, oficinas”. Será também um “centro cívico”, ou seja, “um ponto de encontro em torno das artes, com café e outras valências”. Terá programação, como até aqui, e “muita dela resultante das residências”.

Inaugurado há oito anos no coração da cidade, o Centro Cultural será a Casa da Cultura de Ílhavo. “Entrará nos roteiros nacionais e internacionais. Estará muito ávida a ante-estreias, programação exclusiva, coproduções com outros espaços nacionais. Será uma janela do que me melhor se faz em Portugal e uma tentativa de trazer cada vez mais programação internacional”.

Já o Centro Sociocultural da Costa Nova passa a chamar-se Cais Criativo, com uma programação sazonal “numa lógica de clubbing, projetos ligados à música eletrónica, arquitetura, moda, fotografia”. Luís Ferreira fala em “propostas menos institucionais”, em que o “público pode beber um copo enquanto vê um concerto”. Trata-se de um “espaço fantástico, inserido nas dunas da praia da Costa Nova, com terraço e várias salas”. No inverno, transforma-se num ponto de “acolhimento internacional de residências artísticas com condições exímias. Há o sossego e a capacidade de imersão necessários para certo tipo de projetos”.

23 milhas é o alcance do farol da Barra. “Este tem uma presença imaterial que é a luz. O nosso trabalho é a cultura, também é imaterial”, justifica o diretor dos espaços culturais, acrescentando que é de “um novo rumo” que aqui se fala. Não tem a pretensão de acabar com nada. Quer “aumentar as áreas de atuação, a pertinência, a notoriedade e o ecletismo na sua programação”. A ideia é que “quando se pense e fale a cultura a nível nacional, Ílhavo esteja entre as dez cidades que surgem”.

O projeto, que arranca em janeiro, engloba também os eventos. Além dos que já existem, como a Rádio Faneca, vão aparecer outros no concelho, entre os quais a Bienal Internacional de Artes, que arranca no Porto e em Lisboa e um festival da música e músicos de Ílhavo. Para fazer face aos custos de todo o projeto, a direção apostará mais em alugueres dos espaços, bem como em investimento privado.

Depois de uma apresentação a parceiros e jornalistas, ontem, o “23 Milhas” é apresentado hoje ao público em geral, com uma programação que contempla um roteiro de arquitetura, um concerto de António Bastos & You Band (Costa Nova), A Constituição de Mickaël de Oliveira (Gafanha da Nazaré) e, por fim, um concerto dos Deolinda (Ílhavo).

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