Artigo “Os festivais de cinema e a paixão de Wim Wenders”, por César Nóbrega

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No mês do Fantasporto não era possível fugir ao tema. 33 anos depois o Festival Internacional de Cinema do Porto volta ao Teatro Rivoli para 15 dias de cinema e não só. Entre 25 de Fevereiro e 10 de Março há literatura, há música e há convívio, conversa. As pessoas sentam-se à mesa e falam dos filmes. Do que viram, do que querem ver. Os festivais de cinema são isso. Mais do que mostrar filmes, os festivais são foruns de discussão. E o cinema precisa de discussão.

Quando passou pelo Porto em 2009 o alemão Wim Wenders confessou que, mais do que fazer publicidade ao então filme que apresentou “Palermo Shooting”, queria ouvir o que as pessaos tinham a dizer. Os críticos não gostaram muito. Mas o público parecia sair agradado. Numa das sessões do filme no Fantasporto ele pediu mesmo para espiar e ouvir a sala. Ficou satisfeito!  Um filme não é só a história, os planos, os cortes, a banda sonora e a montagem. Um filme é um conjunto de sensações. Se se sente, vale a pena.

A ligação de Wenders a Portugal vem de longe. Em 1991 Amália Rodrigues esteve em “Até ao Fim do Mundo”, na versão do realizador (e não na versão comercial que saiu para o cinema), Amália aparece  e há música sua. A experiência não se ficou por aqui – se bem se lembram – há pelo menos mais uma, em 1994, Madredeus e o filme “Viagem a Lisboa”.

Em 2009 Wenders estava já a preparar o maravilhoso documentário (que seria lançado em cinema em 2011) sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch. No Porto pediu e procurou música portuguesa. Queria ouvir coisas novas. Se calhar havia qualquer coisa que encaixava na banda sonora. Acabou a incluir o fado de coimbra “Os meus olhos” cantado por Germano Rocha. Não sei se o levou do Porto. Não importa. ”Pina” é um dos melhores filmes do alemão. Os profisisonais que trabalharam com Pina, dançam, falam e homenageiam a coreógrafa. Wim Wenders usou o 3D para fazer este filme. Aparentemente um filme que não precisava da tecnologia e é o filme que mais beneficia dela. A profundidade do palco onde as danças são encenadas. A terra lançada ao ar e que parece cair ao nosso lado. É uma experiência sensorial que arrepia e ninguém deve deixar passar.

Para os cineastas que levam o cinema muito a sério, os festivais de cinema são para trocas de experiências. Para respirar o mesmo ar do público.

E, numa altura em que a pirataria rouba espectadores ao cinema e, por consequência, aos festivais de cinema, é necessária alguma reinvenção. Qualquer que seja o filme que os programadores queiram trazer ao seu festival, é bem provável que os hackers já o tenham nos seus servidores.

Veja-se o caso dos Óscares. Todos os filmes que foram distribuídos aos membros da Academia para visionamento e votação, acabaram também no computador de meio mundo. Quanto mais as autoridades tentam combater a pirataria, mais forte ela fica. A história repete-se. Lembram-se como foi com as cassetes de música. As editoras estavam em choque. Era possível gravar discos de vinil e pasme-se, fazer compilações. Depois veio o cd, o dat e o mp3. As editoras já perceberam que não podem vencer a pirataria. Por isso, usam-se dela. E os grandes estúdios de cinema vão ter de fazer o mesmo. Os festivais de cinema têm a vida mais simplificada. Basta dar ao espectador aquilo que ele não tem em casa. E não são pipocas e refrigerante!

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