A Câmara de Santa Comba Dão está prestes a concretizar a negociação com um herdeiro de Salazar que permitirá construir um museu e um centro de estudos do Estado Novo, projecto que é contestado pelos antifascistas, noticia a agência Lusa.
No ano passado, a autarquia recebeu, por doação, um terço dos bens imóveis da herança da família de Salazar, que era natural da freguesia de Vimieiro, naquele concelho do distrito de Viseu.
«Estamos a negociar com outro herdeiro os restantes dois terços e, neste momento, há avanços muitos fortes para chegarmos a acordo», disse hoje à agência Lusa o presidente da autarquia de Santa Comba Dão, João Lourenço (PSD/CDS- PP).
Ao mesmo tempo, a autarquia «está a mover um processo de expropriação por declaração de utilidade pública» desse património do estadista, «para o caso de falhar a negociação», acrescentou.
Quase 37 anos após a morte do ditador – que esteve cerca de 40 anos à frente dos destinos de Portugal – a sua casa do Vimieiro encontra-se em ruínas e um vasto espólio aguarda a construção do museu, mas o projecto (que já era defendido pelo antecessor de João Lourenço, o socialista Orlando Mendes) foi sofrendo atrasos devido a problemas entre os herdeiros de Salazar.
A proposta é contestada pelo núcleo de Viseu e Santa Comba Dão da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), que considera que se trata de «criar uma organização centrada na propaganda da ditadura corporativo-fascista, em conflito com a Constituição da República».
«O Museu Salazar é uma afronta directa aos ideais da democracia e ao acto do 25 de Abril», afirmou à Lusa Alberto Andrade, da URAP, que já marcou para o próximo dia 03 de Março, em Santa Comba Dão, uma «sessão pública de afirmação dos ideais antifascistas».
Em comunicado, a URAP frisa que «é preciso, imperioso e urgente afirmar os ideais antifascistas em Santa Comba Dão e em todo o país e travar mais esta tentativa de branqueamento do fascismo e de degradação do regime democrático».
O presidente da autarquia lamentou a posição do movimento, sustentando que 33 anos após o 25 de Abril de 1974, «o fascismo em Portugal já morreu há muito e está bem enterrado e ninguém tem vontade de o desenterrar».
«Trata-se de repor a história no seu devido lugar e, ao mesmo tempo, criar condições para que a economia do concelho se possa mexer. Essas leituras que fazem são transversais e tortuosas», sublinhou João Lourenço, garantindo que o objectivo «não é fazer uma homenagem a Salazar».
«Então para que serve o estojo da barba, o carro e outros objectos pessoais? Se isto não é personificar Salazar, o que é então?», questionou Alberto Andrade.
Fonte: Portugal Digital