Museu da Farmácia corre o risco de vender o espólio

491

O Museu da Farmácia, em Lisboa, cujo acervo percorre cinco mil anos da história da saúde, corre o risco de se ver obrigado a vender o seu espólio para apoiar as farmácias, alertou hoje o diretor do museu.
João Neto falava no debate público “Os desafios da política de museus em tempos de crise”, que decorreu ao fim do dia no Museu da Eletricidade, em Lisboa, com a presença de uma centena de profissionais da área da museologia, organizado pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM, na sigla em Inglês) Portugal, organismo dedicado a esta área.
“O Museu da Farmácia é apoiado pelas farmácias. Neste momento, de um universo de 2.900 farmácias, há 1.700 que correm o risco de fechar e por isso o museu poderá ter de vender o seu espólio para apoiar as farmácias”, alertou o diretor.
Instalado no edifício da Associação Nacional das Farmácias, em Santa Catarina, o Museu da Farmácia foi inaugurado em 1996, e reúne um conjunto de peças sobre a história da saúde provenientes de diversas origens geográficas, desde o Egipto, a Grécia ou Roma Antiga.
João Neto participou no debate a convite do ICOM na qualidade de presidente da direção da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), mas falou no caso do Museu da Farmácia como um exemplo do que poderá estar para vir.
“Não há dinheiro. Tentámos contactar os bancos e outros mecenas mas não conseguimos nada. Com esta situação difícil alguma coisa vai acabar e muitas vezes o mais fácil é fechar a porta”, alertou.
O responsável defendeu que, “perante uma situação impossível”, os museus “devem absorver as próprias receitas para permitir a sua viabilidade”.
João Neto advogou ainda que devem ser dadas condições essenciais para os museus funcionarem, como pessoal qualificado, financiamento e uma política museológica.
Das intervenções de vários participantes no debate surgiu uma ideia central: a defesa da Rede Portuguesa de Museus (RPM), entidade oficial criada em 2000 para qualificar e certificar os museus, e que conta com 137 membros, desde museus nacionais, municipais, privados, e da Igreja Católica.
Por seu turno, Raquel Henriques da Silva, antiga diretora do Instituto Português dos Museus, e uma das fundadoras da RPM, afirmou, perante a assistência, esperar que a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) “cumpra a Lei Quadro dos Museus, porque ali estão as questões fundamentais” da política museológica.
“Esta tutela recusa qualquer tipo de diálogo. O que mais me preocupa é como é que o setor dos museus se pode fazer ouvir”, apontou.
No encontro, o ICOM distribuiu um comunicado com os principais tópicos do documento “Os desafios da política de museus em tempos de crise”, enviado em outubro à SEC e a todos os partidos com assento parlamentar, com os quais se tem vindo a reunir em audiência.
No documento, o ICOM defende “a manutenção e reforço da RPM, autónoma, devidamente enquadrada organicamente na futura Direcção-Geral do Património Cultural” (DGPC), com a continuação dos anteriores programas técnicos e financeiros de apoios, e a elaboração da Política Nacional de Museus e do Plano Nacional de Museus.
A DGPC é a nova estrutura da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) que vai reunir o atual Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e a Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo.

Fonte: LUSA, 09.11.2011

Siga-nos