A Igreja de Santa Clara do Porto: uma promessa cumprida após a conquista de Ceuta, por André Silva

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Teto da Igreja de Santa Clara

Foto: Nuno Silva, 2013

Implantada no interior do troço mais bem conservado da muralha fernandina encontra-se a Igreja do Mosteiro de Santa Clara, à qual se acede através do Largo 1.º de Dezembro por uma passagem que nos conduz diretamente ao claustro onde se encontra a porta principal da igreja. Contígua a esta grande porta encontra-se uma outra mais pequena e em arco quebrado que nos comprova que a igreja data ainda da Idade Média.

A construção do mosteiro ocorreu por vontade da Rainha Filipa de Lencastre e nele foram instaladas as monjas clarissas que ocupavam o longínquo Mosteiro de Entre-Ambos-os-Rios. No entanto a sua fundação apenas se realizaria em 1416 no ano a seguir à morte da rainha, e contou com a presença de alguns dos membros mais ilustres da realeza nacional como o Rei D. João I, os Infantes D. Fernando e D. Afonso e o Bispo do Porto, D. Fernando da Guerra.

Filipa de Lencastre, além de ter sido a educadora da “ínclita geração, altos infantes”, dedicara-se espiritualmente à conquista de Ceuta. Referem as crónicas da época que a intensidade das rezas e dos jejuns que a rainha praticava enfraqueceram-na de tal maneira que acabou por morrer após armar cavaleiros os infantes seus filhos que partiriam para Ceuta, referindo que olharia por eles no céu. Poucos dias depois da sua morte a armada portuguesa saiu de Lisboa e conquistou Ceuta com sucesso.

Ao longo dos anos a Igreja de Santa Clara, originalmente de estilo gótico, sofreu sucessivas alterações, das quais se destaca a talha dourada que lhe revestiu o interior no período Barroco. Contrastando com o exterior o espaço interno é de grande homogeneidade estilística, as paredes e o teto são revestidas quase exclusivamente a madeira trabalhada e pintada de tal maneira que as partes que não contemplam a talha dourada parecem mármore. A iluminação natural entra apenas pelas janelas contíguas ao teto e acentuam a serenidade e a espiritualidade do espaço – qualidades que caraterizaram a personalidade da Rainha D. Filipa de Lencastre.

 

Bibliografia: ZURARA, Gomes Eannes, “Crónica da Tomada de Ceuta por el Rei D. João I”, Academia das Ciências de Lisboa, 1915. CUNHA, Bispo D. Rodrigo da, “Catalogo, e Historia dos Bispos do Porto”, Porto, Ioaõ Rodriguez, 1623.

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