O TRIUNFO DA SOLIDÃO, por César Nóbrega

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O TRIUNFO DA SOLIDÃO por César Nóbrega

 

“Gravidade” de Alfonso Cuáron, “Golpada Americana” de David O. Russel e “12 anos Escravo” de Steve McQueen estão no topo das nomeações para a 86ª cerimónia dos Óscares de Hollywood. A máquina funciona como nunca. “Golpada Americana” e “Gravidade” têm 10 nomeações cada, e “12 anos Escravo” segue-os com nove. Todos correm pelo galardão de melhor filme, a que se juntam “O Clube de Dallas” de Jean-Marc Vallée, “Capitão Philips” de Paul Greengrass, “Nebraska” de Alexander Payne, “Filomena” de Stephen Frears, “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorcese e, “last but not least” – “Her – Uma História de Amor” de Spike Jonze.

As novidades não são muitas. Meryl Streep avança para a 18ª nomeação para Óscar de Melhor Actriz, no filme “Um Quente Agosto”. Depois de “Guia para um Final Feliz”, David O. Russel volta a concorrer com “Golpada Americana”, uma “quase” homenagem ao trabalho de Martin Scorcese, que concorre com o fabuloso “O Lobo de Wall Street” – um dos mais fortes candidatos a Óscar de Melhor Filme, a par de “12 Anos Escravo” de Steve McQueen, vencedor do Globo de Ouro para Melhor Filme Dramático.

Do lado das surpresas, e tal como refere a bíblia do cinema “Variety”, porque ninguém estava à espera, são as nomeações de Sally Hawkins (corre para Óscar de Melhor Actriz Secundária em “Blue Jasmine” de Woody Allen), Christian Bale e Amy Adams, protagonistas de “Golpada Americana”.

De fora, ficaram, estranhamente, Tom Hanks e Paul Greengrass, respectivamente, actor e realizador de “Capitão Philips”, Emma Thompson (“Ao Encontro de Mr. Banks”) e Robert Redford (“Quando Tudo está Perdido”).

 

http://www.imdb.com/oscars/nominations/?ref_=hm_ad_t3 (Lista de nomeados para os Óscares 2014)

 

De uma maneira, ou de outra, os nomeados para Óscar de Melhor Filme têm um denominador comum – a solidão. Todos acabam sozinhos, ou lá perto. De “Gravidade” a “O Lobo de Wall Street”, passando por “12 anos Escravo” e, acima de tudo, “Her – Uma História de Amor”. Apesar de todos os outros filmes serem muito mais “espalhafatosos”, é o simples enredo de Spike Jonze que me apaixona. Aliás, o argumento original ganhou um Globo de Ouro e está nomeado para Óscar. Desde “Queres ser John Malkovich” em 1999 que se sabia que Jonze era alguém a ter em conta e especial. Com “Her – Uma História de Amor” realiza o filme definitivo sobre solidão. Joaquim Phoenix (o único actor capaz deste papel) é um pseudo-escritor, escreve cartas para os outros, apaixona-se pelo sistema operativo do seu computador (que tem a voz da Scarlett Johansson). No mundo digital das redes sociais, dos “drones”, da demasiada informação, Theodore Twombly parece ter a relação perfeita. Mas, até para amar um computador é preciso colocar de lado o egoísmo. A relação do ser humano com a máquina vem mudando ao longo dos tempos. De “Metropolis” até aqui muito se alterou. Pode dizer-se que “Her – Uma História de Amor” marca a idade adulta dessa relação. Deixaram de ser contos de fadas ou de terror. Passaram a ser a vida!

 

http://www.youtube.com/watch?v=ne6p6MfLBxc (trailer de “Her – Uma História de Amor”)

 

O filme não vai ganhar o Óscar de Melhor Filme. Quem sabe, com sorte, o de Argumento Original. Não importa. Vão ver e decidam. Interessa pouco que o cenário seja impossível. Spike Jonze leva-nos a um mundo irreal e faz-nos acreditar que é plausível.

 

 

 

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