Artigo “Ventura Terra: um Arquiteto Nascido no Minho”, por André Silva

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Teatro-Club de Esposende.
Patrícia Marcos, 2014

 

Observando com alguma imaginação o antigo teatro-club de Esposende poderá assemelhar-se-nos a um espigueiro. Sim, um daqueles espigueiros rudes tipicamente minhotos! É claro que esta é apenas uma observação abstrata, pois o teatro-club consiste num edifício erudito realizado por um dos maiores arquitetos portugueses.

Falamos de Ventura Terra. Nascido em 1866 no Minho, mais precisamente em Seixas (Caminha) teve um percurso académico notável: formou-se em arquitetura nas Belas Artes do Porto e de Paris, onde teve o privilégio de trabalhar no atelier de Victor la Loux.

Exerceu a sua atividade principalmente em Lisboa, para onde elaborou obras como a Maternidade Alfredo da Costa, o Teatro Politeama e outros edifícios, dos quais se destacam alguns habitacionais que lhe valeram o prémio Valmor, como é o exemplo da sua casa designada precisamente Ventura Terra.       A sua forte atividade na capital explica-se provavelmente devido ao enérgico entusiasmo com que tomou parte na vida política nacional, contribuindo para a implantação da república em Portugal.

Menos conhecido o teatro-club de Esposende será talvez um daqueles edifícios que maior influência da arquitetura civil minhota reteve. Parecendo que Ventura Terra conscientemente ou não se inspirou nos seus espigueiros para a sua realização, senão vejamos:

O teatro-club constitui-se por um comprido e esguio volume com a entrada principal e fachada nobre num dos topos; e aqui, tal como nos espigueiros, percebem-se as duas águas da cobertura coroadas por um ornamento; as paredes do piso térreo são as menos nobres, ao contrário das paredes superiores cuja nobreza nos revela que é ali que se encontra o programa principal (os espigueiros também são sempre elevados do chão); o ritmo dos vãos verticais das fachadas laterais lembram-nos as frestas dos espigueiros; e até a cor amarela dos azulejos da fachada nobre nos remete para a cor das maçarocas de milho.

 

Bibliografia: NEIVA, Manuel, “Esposende: Lugares e Memórias” in “Boletim Cultural de Esposende”, 2.ª Série, n.º 3, Câmara Municipal de Esposende, 2013; SILVA, Armando da, “Tempo e Espaço em Miguel Ventura Terra” in “Arquitecto Ventura Terra”, Lisboa, Assembleia da República, 2009.

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