Serralves à espera de fundos para construir Casa do Cinema Manoel de Oliveira

1268

manoel_oiveira

A Fundação de Serralves continua a aguardar por financiamento para a concretização do projeto concebido pelo arquiteto Siza Vieira para a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, estando agora a inventariar o espólio.

Em abril do ano passado, aquando da morte do cineasta, o então presidente da Fundação de Serralves, Braga da Cruz, garantiu que a instalação do edifício no parque dependia apenas de fundos comunitários e da abertura das candidaturas ao programa operacional regional Norte 2020.

“O que posso dizer é que mal haja uma abertura de candidaturas, a nossa será a primeira a entrar”, adiantou então à Lusa Luís Braga da Cruz, segundo o qual “o projeto de execução está concluído, está aprovado pela Câmara Municipal do Porto, não levanta objeções de qualquer outra natureza, portanto só há que acolher o projeto na candidatura ao Programa Regional do Norte do Portugal 2020”.

A Lusa pediu à Fundação de Serralves mais informações relativamente a este assunto, mas não recebeu qualquer resposta em tempo útil.

Meses antes, em janeiro, a diretora do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Suzanne Cotter, afirmou, em entrevista à Lusa, que já estavam na posse do arquivo e que estavam a fazer a sua inventariação.

“Estamos a trabalhar na obtenção de financiamento. Está a avançar de forma confiante e clara”, disse Cotter há um ano.

Em novembro de 2013, a Fundação de Serralves, a secretaria de Estado da Cultura e o realizador Manoel de Oliveira assinaram um protocolo para a construção da Casa do Cinema Manoel de Oliveira.

O espaço previsto para acolher o espólio do realizador será dotado de um anfiteatro e de um local para exposições e vai ser erguido no extremo nordeste do Parque de Serralves, com um projeto do arquiteto Siza Vieira que aproveitará a antiga garagem do conde de Vizela.

O projeto inicial para instalar a denominada Casa Manoel de Oliveira na Foz foi lançado em 1998 pela Câmara do Porto, então presidida pelo socialista Fernando Gomes.

A ideia avançou sem que tivesse sido formalizado um acordo com o realizador para o uso da casa e, em 2001, o cineasta vincou isso mesmo ao não comparecer na cerimónia de lançamento da primeira pedra.

Na altura, o projeto do arquiteto Eduardo Souto Moura estava avaliado em dois milhões de euros.

Quando a obra ficou pronta, em 2003, durante o mandato do social-democrata Rui Rio, o relacionamento do cineasta com a Câmara piorou.

Em setembro de 2007, o cineasta responsabilizou a Câmara do Porto pelo fracasso da criação de uma casa-museu reunindo todo o seu acervo cinematográfico.

“Quando, em 2003, o edifício ficou concluído, a Câmara do Porto enviou funcionários seus para transportarem, sem aviso e sem consentimento de Manoel de Oliveira, o material que compõe o vasto acervo cinematográfico deste”, salientou então o advogado do cineasta.

Avisado por um porteiro, “Manoel de Oliveira chegou a tempo de impedir este abuso, informando que nada sairia do local onde esse material se encontra (e cujos custos Manoel de Oliveira suporta na íntegra há mais de uma década) enquanto não fosse alcançado um entendimento entre si e a Câmara “, acrescentou o advogado.

De acordo com o causídico, Oliveira tinha em 2005 enviado à autarquia uma proposta contratual para formalizar as condições de doação do acervo e da gestão da futura casa-museu.

No mesmo comunicado, o realizador reafirmou a sua disponibilidade para doar à cidade onde nasceu o seu acervo cinematográfico, constituído por “elementos fílmicos e biográficos” e pela “totalidade” dos cerca de 80 prémios recebidos.

Em março de 2011, o filho do realizador, José Manuel Oliveira, disse à agência Lusa que se gorou, por falta de acordo, a hipótese de transferência do acervo cinematográfico para o edifício construído para o efeito.

Fonte: DN

Siga-nos