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Artigo “Bloco de Ouro: e a Habitação Coletiva em Altura no Porto”, por André Silva

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Fachada principal do Bloco de Ouro
Patrícia Marcos, 2014

A quem, pelo menos, de vez em quando circula pelo Campo 24 de Agosto, concerteza já memorizou um volumoso edifício de desenho orgulhosamente geométrico e de tonalidades esverdeadas e alaranjadas. Trata-se do Bloco de Ouro, projetado pelo arquiteto Mário Bonito: uma obra que foi no seu tempo um dos edifícios de habitação coletiva mais inovadores do Porto.

Nesta altura começavam-se a construir na Europa edifícios de habitação em altura em betão armado que, além de contemplarem um inovador estilo arquitetónico, ao nível programático eram autênticas máquinas de habitar, com serviços comunitários como comércio, creches, lavandarias, piscinas ou jardins.

O nosso edifício foi construído em 1950 e os seus apartamentos distribuem-se ao longo de quatro pisos, cuja respetiva posição na fachada é facilmente perceptível através dos limites de cada varanda. Estas varandas são rematadas numa das alas por uma grelha destinada à zona de serviços. Espaço especialmente apto para secar a roupa através do ar exterior, sem que a mesma fique visível aos transeuntes, salvaguardando-se aqui estas questões básicas de privacidade. No piso térreo situam-se as garagens e nos topos encontram-se as galerias de acesso vertical.

Infelizmente os pré-fabricados acrescentados posteriormente na cobertura não nos permitem desfrutar da verdadeira elegância que este edifício teria aquando da sua construção. Repare-se que o seu nome Bloco de Ouro tem a ver, não tanto com acabamentos de luxo mas sim, com o facto do edifício contemplar a proporção de ouro – uma proporção presente, por exemplo, nos templos gregos.

O Bloco de Ouro é assim um reflexo de como os arquitetos portugueses se encontravam na vanguarda da construção de edifícios de habitação coletiva em altura como os melhores que se faziam na Europa e que tiveram como expoente máximo o designado Bloco de Habitação de Marselha, de Le Corbusier, construído nos finais dos anos 40 e onde se encontra também a proporção de ouro.

Bibliografia: TOSTÕES, Ana, “Os Verdes Anos na Arquitetura Portuguesa dos Anos 50”, Porto, FAUP Publicações, 1997. FERNANDES, Fátima e CANNATÁ, Michele. “Guia da Arquitectura Moderna: Porto 1925-2002”, Porto, Asa, 2003.

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