Cristo foi à Católica fazer uma TAC

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Uma radiografia e uma tomografia axial computorizada foram apenas dois dos exames a que foi sujeita a imagem do Senhor de Matosinhos, o Cristo crucificado mais antigo do país, para serem diagnosticadas as agruras de uma vida com 700 a 900 anos.
A radiografia, feita com equipamento portátil, pôde cumprir-se na sacristia. Determinou-se que era fundamental mantê-lo no ambiente de temperatura e humidade constantes a que está habituado. Mas a tomografia axial computorizada teve de decorrer num laboratório, obrigando a uma viagem difícil de Matosinhos até ao Porto. Os trabalhos arrancaram há um ano e deverão estar prontos até ao dia do Senhor de Matosinhos.
E estava mal, este cristo. Alexandre Maniés procede à consolidação e ao restauro da escultura no âmbito de um mestrado na Universidade Católica. Chegou a ser surpreendido. Contrariando todas as regras – um cristo tem três partes, o corpo e os braços -, a imagem tinha sido cortada a meio, abaixo da pelve, crime ocultado com um pano da pureza novo, branco. Originalmente, descobriu, foi esverdeado. E chegou a ser dourado, em duas alturas.
Vai manter-se branco, porque é assim que os fiéis o viram nas últimas décadas, garantiu ao JN Fernando Rocha, vereador da Cultura da Câmara de Matosinhos. Financiado pela autarquia, o trabalho permitiu perceber o avanço da degradação, causado inseto xilófago (bicho da madeira) e por restauros mal pensados.
Permitiu perceber que é de salgueiro, madeira frágil e suscetível ao bicho, e que patologias tinha. Permitiu descobrir que a cabeleira lhe “cresceu” com os séculos – na origem, o cabelo era esculpido. No lugar dele, no último ano, esteve uma réplica, que é o “duplo” para as procissões desde há 60 anos, da vez em que o Senhor de Matosinhos acabou partido…

Fonte: JN, 11.05.2012

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