O que ver para bem “tver” por César Nóbrega

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hill_streetA Balada de Hill Street

“Quem vê tv, sofre mais que no wc…” cantavam há 30 anos os Taxi. A frase não perdeu sentido, mas na altura tínhamos apenas dois canais! A televisão está onde nunca esteve. Nunca antes se viu tanto entreteninento ou informação. Não importa se há qualidade naquilo que se vê. Não importa o que está a ser feito às massas que a vêm. Copiando o modelo económico do mundo, o que importa é que a televisão seja consumida. O que vem depois é irrelevante.

As telenovelas são um conjunto de “clichés”. Depois da loucura dos irmãos gémeos, agora é a diversidade sexual que inunda os ecrãs, há uns anos foi o combate ao racismo. O primeiro objectivo não é errado, pelo contrário. O que está mal é a formatação. Toda a gente se queixa que o mundo está “americanizado” com a Coca-cola, as Levis 501 e o Macdonalds, mas ninguém repara nas famílias das telenovelas, que quando tomam o pequeno-almoço têm mesas fartas com fruta, bolos, pão, sumo, café… e que quando chegam a casa do trabalho, ao fim do dia, a primeira coisa que fazem é servir-se de um whisky (em quantas famílias portuguesas é que isto acontece?).

O espaço apelidado de “informação pura” demora, pelo menos, uma hora de cada vez. O noticiário das televisões das oito da noite é um “show” mediático de “ditas” notícias, em que os três canais (RTP, SIC e TVI) estão a monitorizar-se em tempo real, para interromper a informação para a publicidade quando os outros o fazem, ou então mudar o alinhamento da informação se nos outros canais assim for. Ainda me lembro a altura em qua os telejornais tinham quase meia-hora e apresentavam notícias. O importante, agora, são as audiências.

Dos “talk-shows” e concursos nem vale a pena falar. Por onde começar? Pelos programas que “oferecem” dinheiro, carros e afins a troco de módicas chamadas de valor acrescentado? Pelos “Big Brother” que exploram a condição humana? Um país que não teve tempo de crescer em 40 anos de liberdade, dificilmente vai chegar à maioridade.

De todo o bolo televisivo salvam-se as séries de televisão oferecidas pelos canais por cabo (algumas também passam nos canais generalistas, verdade seja dita). Esta será aquela que muitos apelidam de a “Terceira Era Dourada” das séries tv. A primeira está nos anos 50, e a ela estão associadas séries como “Alfred Hitchcock Presents” ou “The Twilight Zone”. A segunda Era, culmina com uma das melhores séries de todos os tempos – “A Balada de Hill Street”. Mas, também, “O Espaço 1999” ou “Star Trek”. A terceira Era Dourada estamos a vivê-la, contudo há alguns anos que se vem preparando. “Twin Peaks” ou “Os Ficheiros Secretos” estão no início, e o falecido James Gandolfini vem estabelecê-la com “Os Sopranos”. Se repararem, todas elas são séries que juntam o melhor dos melhores, dos argumentistas aos actores, passando pelos realizadores. “Breaking Bad”, “The Walking Dead”, “CSI”, “Mad Men”, “Guerra dos Tronos” são apenas alguns exemplos. O nascimento de muitos canais por cabo e o recutamento no cinema explica este “boom”. A internet veio ajudar. A série protagonizada por Kevin Spacey para o canal Netflix – “House of Cards” – é a prova. E mais. A pirataria está a ajudar as séries de televisão. Quanto mais pirateada é a “Guerra dos Tronos” mais audiência tem.

Se por um lado temos telenovelas, concursos e noticiários que tudo fazem para adormecer o telespectador, por outro temos as séries a tentarem espertar e mesmo dar uns valentes murros no estômago de quem vê. A única coisa que nos falta são os desenhos animados checos do saudoso Vasco Granja.

 

Taxi – TVWC

http://www.youtube.com/watch?v=tiZ5rfl7Uzk

 

 

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